A conservação das pedras de cantarias depende de uma combinação de medidas preventivas, ou seja, de condutas regulares de manutenções periódicas para se evitar a restauração. A seguir você conhecerá em detalhes os procedimentos para a conservação de pedras históricas.
Quanto mais “macia” for uma pedra escolhida no passado para ser esculpida e integrada à uma edificação maior será o cuidado para se garantir sua integridade. Deve-se registrar que, por rocha “macia”, entenda-se à sua capacidade de resistência às erosões, aos intemperismos ou aos esforços mecânicos. O calcário e o arenito (rochas sedimentares), assim como o esteatito ou pedra-sabão (rocha metamórfica), são frequentemente citados como “pedras macias” porque são facilmente trabalhadas pelo cinzel e também mais susceptíveis às erosões e aos decaimentos. Evidentemente que existem casos, situações específicas de meio ambiente e usos, onde cada tipo de pedra fica mais ou menos exposto e sensível às alterações e aos danos – cada caso é um caso.
Fazendo um parêntese, o bordão "cada caso é um caso" é uma afirmação simples, entretanto profunda, que enfatiza a singularidade e a individualidade inerentes às situações e coisas. Essa afirmação serve como um lembrete de que circunstâncias gerais, embora necessárias se conhecer, podem em alguns contextos ser enganosas ou até mesmo prejudiciais. Explicando: há variabilidades nas condições onde cada componente e elementos construtivos ou artísticos se inserem numa edificação, num espaço e meio ambiente. Duas circunstâncias nunca são idênticas em todos os aspectos. Mesmo que dois eventos pareçam semelhantes na superfície, as variáveis que os cercam – cristalizações, uso, tempo, cargas, esforços, podem diferir muito. Embora, semelhantes cada coisa tem um histórico e trajetória de confecção diferentes, funções e usos muitas vezes únicas. O que pode ser verdade ou funcionar para uma edificação, um componente ou elemento pode não necessariamente se aplicar a outro. Tratamentos, mecanismos de enfrentamento e caminhos de conservação e restauro podem diferir drasticamente de um objeto/situação para outro, tornando crucial o atendimento individualizado, particular. O reconhecimento de que cada caso é um caso implica que não existe uma solução única para os problemas.
No âmbito da preservação dos bens culturais, operar com base na crença de que todos os casos são iguais pode levar a suposições equivocadas. Reconhecer e respeitar as diferenças pode abrir caminho para interações mais significativas. Aceitar que cada caso é um caso permite uma compreensão mais profunda em vez de dá lastro às generalizações. Ter a conduta de distinguir cada situação resulta em ações favoráveis à adaptabilidade. Embora categorizar e generalizar sejam inerentes à cognição humana e muitas vezes necessários para uma tomada de decisão eficiente, é essencial se encontrar um equilíbrio. A frase "cada caso é um caso" ressalta a importância da individuação na abordagem cada situação com a mente aberta. É um chamado para permanecer atento, receptivo e adaptável às inúmeras situações de estado de conservação do patrimônio construído.
Retornando ao assunto principal, a conservação e o restauro das pedras de cantarias calcárias utilizadas no piso da sacristia da Igreja de Santo Antônio do antigo Convento Franciscano da cidade de João Pessoa.
O piso foi executado com fragas de calcário extraídas dentro da cerca conventual dos franciscanos, sendo alinhadas e assentes em formas de retângulos, losangos e triângulos, com inserções de ladrilhos cerâmicos e de mirra, dando um aspecto geométrico peculiar de tabuleiro, contrastando com a pintura Rococó do forro e o mobiliário – arcazes, repositório e sanefas. De acordo com os registros do Cônego Florentino Barbosa, no livro Monumentos Históricos e Artísticos da Paraíba, e demais fontes consultadas, a capela-mor da Igreja de Santo Antônio, sofreu uma atualização entre 1751 e 1753, ganhando uma sacristia logo atrás, quando era guardião do Convento, o irmão Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão. Nesta construção, foram destacados os objetos, móveis e ornamentos do espaço, como a cômoda, destinada aos ornamentos (alfaiais) e armário para guardar utensílios do culto, toda de Jacarandá, sendo muito singular no seu trabalho artístico. Frisos e flores de pau de ouro foram feitos nos caixões do forro da sacristia entre 1787 e 1789. Os registros mostram a construção e os melhoramentos do espaço da sacristia deste o século XVIII até primeira metade do século XIX, revelando as camadas de história a serem agora estudadas nos pormenores construtivos. Inusitadamente, o que mais se destaca dentro da sacristia são os revestimentos no piso com mirra. Essa resina aromática, dentro da simbologia religiosa, é conhecida como uma substância que age contra energias negativas, promovendo proteção espiritual.
ESTADO DE CONSERVAÇÃO:
Pelo exame visual, direto e objetivo dos elementos do piso verificam-se danos variados, alterações e riscos. Na escala de conservação, pode-se atribuir o nível 4, ou seja, com lesões na funcionalidade do componente ou elemento construtivo, com consequências diretas relevantes que exigem atenção imediata, emergencial, que ainda podem ser consolidadas e restauradas. Vejam-se as imagens dos danos e riscos de perdas adiante, onde são vistas as perdas nas áreas dos enxertos das mirras. Observam-se desgastes acentuados nas pedras de cantarias (fragas), nas tijoleiras também, ocasionadas pelo intenso trânsito de pessoas com sapatos que desgastam a pedras, lenta e continuamente. Diversas sujidades por impregnações de ceras são visíveis. Em algumas áreas das cerâmicas e das mirras foram executados, no passado, enxertos espúrios com argamassa de cimento e areia.
O piso da sacristia é singular, não só pela geometrização que remete seu autor às ordens secretas como Maçonaria e Rosacrucianismo, mas, principalmente, pelo uso místico da mirra. Provavelmente único na América Latina, sendo componente construtivo e artístico integrante da proteção pelo tombamento federal do conjunto franciscano de João Pessoa, é indispensável sua proteção imediata quanto aos desgastes e perdas. Para tanto, apresentam-se a seguir as medidas de preservação, através de ações de conservação e restauro.
1. Testes físico-químicos
2. Documentação gráfica e fotográfica
3. Higienização
4. Testes físico-químicos de limpeza
5. Limpezas
a. Cantarias
b. Cerâmicas
c. Mirra
6. Remoção de enxertos espúrios
7. Enxertos
a. Áreas da mirra
b. Áreas da cerâmica
c. Consolidação
8. Proteção superficial
a. Enceramento
b. Sapatilhas tipo pantufas
Esse caminho de ações – especificações é acompanhado dos detalhes dos procedimentos necessários para a realização de cada passo – encargos. Tem-se que tudo deve começar no canteiro dos serviços pelas avaliações e documentações que precedem qualquer trabalho de conservação propriamente dito. Será essencial avaliar minuciosamente a intervenção que se executará em cada pedra, procedendo as anotações as ações nas FESs (Ficha de Execução de Serviços). Os testes preliminares e a documentação ajudarão na compreensão dos processos de deterioração e a escolha de ferramentas/soluções mais adequadas às intervenções. Esses protocolos têm base nas boas práticas da conservação do patrimônio construído. No caso das remoções dos elementos espúrios, ou seja, dos enxertos e adições inapropriadas feitas ao longo do tempo por diversas razões, seja por ignorância ou mesmo erro de restauração, o mapeamento de danos, através das FIDs (Fichas de Identificação de Danos) já forneceu o lastro para as decisões quanto as condutas no conjunto construído. Coerente com os protocolos, serão feitos também testes para a escolha do melhor método de remoção, desde a simples raspagem manual até escarificações, o importante será garantir que os procedimentos escolhidos não causem mais danos às pedras. Todos os serviços previstos no projeto aprovado pelo IPHAN-PB, serão balizados pelos princípios consagrados da mínima intervenção necessária.
MAPA DE DANOS (01/02)
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DE DANOS (04/10)
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